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Confira a entrevista com Luiz Franco Thomaz, o grande baterista Netinho do grupo "Os Incríveis"

Nesse ano o baterista comemora 60 anos de "Os Incríveis" e está à todo o vapor com novos projetos


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Foto: Mila Maluhy

Tudo começou no início dos anos 60, quando o jovem baterista Luiz Franco Thomaz ingressou na banda "The Clevers" que, posteriormente daria origem a "Os Incríveis", em 1963. Na época, nos EUA existia os "Beatles", na Inglaterra os "Rolling Stones" e no Brasil "Os Incríveis", que era considerada uma das bandas mais famosos do país.


Netinho também montou o grupo "Casa das Máquinas", criou vários projetos com muitos músicos envolvidos, criou selo independente de gravadora, escreveu um livro...


Meu entrevistado fez parte disso e de muito, mas muito mais e, nessa entrevista, ele faz um resumo da sua longa história de contribuição para o rock nacional. Confira!


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"The Clevers, Os Incríveis" lançado pela Continental

1- Fale um pouco ѕobre a ѕua traјetórіa no mundo da música até o momento.


N: Deca querida! Acho que minha trajetória pelo mundo da música estava traçado. Com certeza era, ou é uma continuação de outras vidas. Com 6 anos tocava o sino da igreja pra chamar os fiéis à missa (o padre reclamava dizendo que eu batucava). Ronnie Von intitulou seu prefácio no meu livro de “Baqueta de ferro” por isso. Com 8 anos eu tocava repique na fanfarra da minha escola em Itariri. Com 12 anos toquei caixa na banda marcial do Seminário onde estudei 2 anos interno. Com 14 me tornei profissional como baterista da Orquestra Tropical de Itariri fazendo bailes por toda a região. Com 16 mudei pra São Paulo, de dia trabalhava no Sesc/Senac e à noite estudava no colégio Oswaldo Cruz, mas em menos de 1 ano entrei no Clevers e acabei abandonando os estudos.


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Com 8 anos na fanfarra de Itariri

2- The Clevers foi a sua primeira banda, logo se tornou "Os Incríveis". Qual a causa da troca do nome?


N: The Clevers era formado por Mingo, Manito, Risonho (Aroldo 70), Neno (Nenê 65) e Netinho. Começamos em 1962 e o primeiro disco em 78RM foi gravado em 2 canais, foram duas músicas instrumentais “Afrika” e “El Relicario”, que logo se tornou sucesso em todo o Brasil. Em 63 fomos contratados pela TV Record pra comandar um musical em horário nobre chamado “Clevers Show” com ballet de Leny Dale. Em 64 acompanhamos a cantora italiana Rita Pavone pelo Brasil, que acabou numa turnê de 40 shows pela Europa, que nos proporcionou trazer instrumentos importados (Fender, Ludwig, Gretch, Marshals, etc). Na volta, fomos contratados pelo canal 9 de Buenos Aires, ficamos lá 9 meses e gravamos um LP pela CBS chamado “Los Increibles” e a partir daí passamos a usar o nome também em português, “Os Incríveis”.


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Os Incríveis - 1977

3- Quais foram as maiores dificuldades no começo do The Clevers e Os Incríveis?


N: Sei lá, acho que não havia dificuldades que nos dessem mais prazer do que viver aquele sonho desconhecido e até então jamais sonhado, se apresentando a cada minuto em um horizonte novo. As coisas aconteciam muito rápido pra nós. Olha só, eu por exemplo, tinha que carregar, montar e desmontar a bateria com um monte de fãs nos agarrando e acariciando, o que logo por necessidade me levou a ter que buscar ajuda, e com isso “criar”** a profissão de roadie no Brasil… heheeee!


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Em 67 não tinha bateria de 2 bumbos para vender nem lá fora, então juntei uma Ludwig com uma Rogers

4- O que significou Rita Pavone para a carreira do Os Incríveis?


N: Acho que esse foi o grande momento mágico da nossa história, que até mais que o nome da banda, me projetou intensamente na Europa e na América do Sul. Até hoje, onde vou a primeira pergunta é sempre sobre o badalado romance entre a Rita e eu.


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em 1964, The Clevers com Rita Pavone

5- Você é muito citado por bateristas quando questionados sobre influências que tiveram. Sendo assim, quais foram as suas influências?


N: Posso me considerar autodidata. Em minha cidade Itariri (nome guarani “Ita” significa “pedra” e “riri” o barulho das pedras rolando, … sou um Rollingstones…rss) não pegava TV e tudo o que ouvíamos era pelo rádio. Em SP fiquei impressionado com Edson Machado pelos discos e Rubinho Barsotti quando o vi tocar pela 1a vez com Zimbo trio. … Amei!


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essa é de 1967

6- Depois do fim do Os Incríveis, surgiu Casa das Máquinas, sendo que tem como grande característica o fato de cada álbum seguir um estilo diferente. Casa das Máquinas (1974), é um som mais pop; Lar de Maravilhas (1975), é um disco de rock progressivo; já Casa de Rock (1976), é totalmente Hard Rock. A mudança de integrantes influenciou isso?


N: Com certeza cada disco teve influência dos músicos, era uma época de total mudança no rock e as composições ao contrário dos Incríveis, que éramos mais intérpretes, o Casa era uma banda com proposta autoral dos novos tempos. O 1º álbum tinha ainda uma influência da banda "Os Incríveis" que até então eu tinha como modelo. Depois foi mudando por influência dos músicos.


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Início da formação do Casa das Máquinas, em 1973

07- Qual a causa do término do Casa das Máquinas, em 1978? Você estava fora do Brasil quando ocorreu?


N: Na verdade, penso eu que, ou a banda não estava preparada para o que estava sendo programado para o nosso futuro principalmente internacional, ou era assim que tinha que ser. A banda cresceu demais com uma agenda lotada de shows até mesmo em estádios de futebol pelo Brasil, o que me fez ter que importar equipamentos que aqui não tinha nem pra alugar.

Eu estava na Europa onde tinha acabado de assinar contrato com a RCA internacional para lançar os discos do Casa das Máquinas, fechando turnês por lá, e quando cheguei ao Brasil me deparei com uma explosão de notícias nos acusando de assassinato; Jornal Nacional, capa de jornais e revistas, que, depois de ter minha vida virada de cabeça pra baixo, hoje, eu confesso que até já consigo entender um pouco, principalmente da nossa ingenuidade se perder naquela imensidão tamanha que era, o mundo do ROCK. "Os Incríveis" surgiu na minha vida como dádiva divina. O Casa das Maquinas foi pensado, criado e produzido com muita dificuldade, mas que me orgulho muito de ter dado um passo à frente participando da luta pelo NOVO.


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Como integrante da banda Joelho de Porco

08- E a banda punk Joelho de Porco, como aconteceu?


N: Essa é dificil responder, sem ainda não ter entendido direito essa parte do filme da minha vida. Com certeza o acaso fez acontecer essa loucura, que me faltava talvez entender ainda o que foi esse passar pela etapa desse tal de... sexo, drogas and rock and roll! Mas, foi a ponte pra eu montar um sêlo independente e criar o projeto Amor e Caridade com 2 LPs autorais e inéditos.


09- Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?


N: Com certeza o início dos Incríveis nos anos 60. Foram inúmeros momentos marcantes após isso, em que Deus me proporciona ainda em vida estando aqui nesta escola maior chamada Terra.


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Projeto Amor e Caridade - vol. 2

10- Como você deѕcreverіa ѕua forma de tocar?


N: Então! Fiquei famoso como baterista de rock, mas sinto que sou sambeiro, pois tocando sozinho, tanto faz ser um solo lento ou rápido, tudo soa em samba, sou viciado no rimshot.


11- Você deu uma canja na bateria de Bill Brufford, com o Phil Collins tocando junto na outra bateria. Como foi isso?


N: Em 1976, alguns integrantes da banda Genesis estiveram incógnitos no Brasil. Vieram sentir a possibilidade de se apresentarem no país, o que aconteceu no ano seguinte. Meu amigo Okky de Sousa (revista Pop Ed. Abril) sabendo disso me ligou e eu imediatamente fui ao hotel onde estavam hospedados e os convidei para um jantar em minha casa, e assim rolou uma feijoada com caipirinha em companhia de meus ídolos; Tony Banks e esposa, Mike Rutherford e esposa, Steve Hackett e o empresario Tony Smith. No mês seguinte recebi um convite do Tony Smith pra ir a Londres assistir o lançamento do novo album ‘A Trick of the Tail’ onde Phil Collins assumia o vocal no lugar de Peter Gabriel. Chegando ao Cine Odeon, em Hammersmith, fui muito bem recebido por todos da equipe, mas jamais poderia imaginar que havia uma espectativa por parte deles em me colocar como baterista na banda, juro que essa idéia não passou pela minha cabeça, até que no terceiro dia, eles me chamaram no palco pra dar uma palhinha na bateria do Bill Bruford, que estava participando como convidado na segunda bateria enquanto eles procuravam alguém pra ficar fixo, isso porque o Phil agora era o vocalista principal. Fui direto à bateria do Phil mas como ele era canhoto, o Bill me ofereceu sua bateria, e assim aconteceu. Toquei um pouco sozinho, depois com Mike e Hacket, até que Phil Collins sentou na sua bateria e tocamos um groovie juntos, e em seguida ele me pediu pra mostrar como se tocava samba. Isso durou pouco tempo, porque o talentoso mas mal humorado tecladista (lider) nos interrompeu dizendo que era preciso focar no trabalho.


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Em minha casa com Banks e Hacket, em 75

11- Quem você reuniria em um palco para uma Jam?


N: Opa! Vai que essa idéia se concretize!? Heheeee! Convidaria: Andria Busic, Sandro Haick, Luiz Carlini e Bruno Cardozo.


12- Houve uma considerável metamorfose no rock nacional desde o seu início? O que mais sente falta?


N: Sim, muita falta. O rock esfriou e a qualidade do rock nacional caiu muito. As melhores bandas agora cantam em inglês.


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Capa da revista Intervalo

13- Para onde está caminhando a música?


N: Difícil saber. O povo cada vez mais prefere música da pior qualidade, mas as escolas de música cheias de alunos ainda nos dão alguma esperança.


14- Há alguma pergunta que gostaria de responder, mas que ainda não teve oportunidade porque nunca perguntaram? E qual a resposta?


N: Acho que suas perguntas foram ótimas e eu gostei muito de responde-las. Só tenho a te agradecer pelo carinho minha querida amiga.


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No ano de 68, namorando a Sandra (estamos casados há 52 anos).

15- Quais os projetos em andamento?


N: Bem, vou fazer 77 anos mas continuo com muita vontade de trabalhar e criar algo novo, mesmo tendo a conciência de como isso é difícil hoje em dia. Minha cabeça não para. Eu e o Aroldo (ex-Incríveis e ex-Casa das Maquinas) estamos entrando em estúdio pra gravar um CD autoral e inédito de uma banda nova chamada NEAR (em 1ª. mão). Ele mora em Nova York e eu em São Paulo (NE de Netinho e AR de Aroldo). Meu segundo livro está bem adiantado e os shows ao vivo não param. Pretendo produzir ano que vem um grande evento de rock pra comemorar 50 anos da minha etapa pós Incríveis.

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Capa do primeiro livro, lançado em 2009

16- E para terminar, qual a mensagem que fica para quem quer seguir na música?


N: Venham para a música. Ouçam música boa o tempo todo. Aprendam um instrumento se puderem. Sua vida pode não mudar mas com certeza vai melhorar seus sentimentos.

Amor no coração é tudo!


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Com a atual formação do "Os Incríveis" : Sandro Haick (vocal, guitarra, bateria), Leandro Weingaertner (vocal e baixo) e Rubinho Ribeiro (vocal e guitarra)

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