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Confira a entrevista com o pianista, produtor musical e compositor Michel Freidenson


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Foto de Agnaldo Rocha Papa

Ao longo de sua carreira, Michel tem gravado e participado de shows no Brasil e pelo mundo com grandes artistas como Ana Caram, Badi Assad, Bocato, Corciolli, Djavan, Fafá de Belém, Hermeto Pascoal, Ivan Lins, Jane Duboc, Léa Freire, Leny de Andrade, Lô Borges, Márcio Montarroyos, Raul de Souza, Tim Maia, entre outros, além de ter reconhecimento internacional com seu Michel Freidenson Jazz Trio/Quartet, tocando composições próprias, música brasileira e jazz fusion.


Considerado um dos maiores pianistas do Brasil, o compositor, produtor, tecladista e arranjador Michel Freidenson, fundador do lendário grupo instrumental Zona Azul, conversa conosco nessa entrevista exclusiva. Confira!


01) Como surgiu a música na sua vida? MF- A música surgiu na minha vida desde sempre. Meus pais adoram música e eu cresci ouvindo muita coisa em casa. Todo sábado aconteciam reuniões musicais em casa, muita Bossa Nova, Jazz, em encontros com grandes músicos que vinham tocar, dar canja em casa nestas reuniões. Meu Bisavô Nelo Morpurgo foi maestro, violinista, meu pai Jayme Freidenson tocava bateria como músico amador, minha mãe Marilia Freidenson gosta de cantar, além de ser poetisa e escritora. Cresci nesse ambiente. 02) Quando se iniciou a sua atração pelo piano? Foi a sua primeira escolha? MF- Por sorte sempre tive instrumentos musicais por perto. Bateria e violão, instrumento pelo qual iniciei me iniciei na música, aos cinco anos. Daí aconteceu de um piano chegar em casa, como parte do pagamento de negócio que meu pai fez. O piano ficou um tempo lá até o dia que meu pai falou em vender o piano, já que ninguém tocava. Ele adorava a música ¨Ponteio¨, de Edu Lobo. Sabendo disso, e até com receio de perder aquele instrumento, eu tirei de ouvido a música ¨Ponteio¨ no mesmo dia, e quando meu pai retornou a noite, toquei pra ele. A partir daí me apaixonei pelo piano. 03) Quando você começou a produzir música, quais foram as suas primeiras paixões e influências? MF- Adorava ouvir Elis Regina, Ella Fitzgerald, Oscar Peterson, Amilton Godoy ( Zimbo Trio ), Tom Jobim, toda a turma da bossa nova, entre muitos outros grandes músicos. Adoro tocar baixo também. Esse contato com tantos instrumentos me ajudou muito quando eu comecei a produzir música. Na questão de música ao vivo, isso sempre me ajudou, como produtor, a tirar dos músicos a melhor maneira de executar a música, saber o que a música pedia para cada instrumento. Na produção em estúdio isso sempre me ajudou muito ao programar os instrumentos artesanalmente, sempre preferi tocar peça por peça de cada instrumento, seja da bateria ( caixa, bumbo, hh, etc ), notas do baixo, das cordas, etc, de forma artesanal ao invés de usar loopings prontos. Para programar bem digitalmente qualquer instrumento, é importante você imaginar a linguagem do que o músico pensaria e faria naquele momento, como seria tocado se fosse realmente uma gravação ou performance ao vivo. 04) Qual o seu estilo preferido de tocar? Porquê? MF- O meu estilo preferido de tocar é Jazz e Bossa Nova. Mas eu gosto de todos os estilos musicais. Gosto de produzir em todos estilos. Pessoalmente como pianista, o Jazz e Bossa Nova permitem você criar em cima de uma obra já feita, quando solamos. Esse é o ponto forte, a liberdade de através da música, naquele momento, você ficar livre para expressar suas idéias e inspirações livremente, através das notas musicais dentro de um contexto fixo ( composição original ), e ¨viajar¨, voar musicalmente através das suas inspirações do momento nessa música. 05) Quais foram os seus principais desafios de composição e produção no início? Como eles se aperfeiçoaram ao longo do tempo? MF- Quanto a composição, esse é um processo muito natural em mim. A música vem constantemente em minha cabeça, não há muito muita organização, ela pode vir completa do início ao fim, ou pode vir um pedaço da música e ela vai se construindo ao longo do tempo. Normalmente eu sento no piano e a música vem completa, não levanto enquanto não estiver pronta. E é importante gravar, porque são muitas ideias que são perdidas ao longo do tempo. Comecei a compôr aos cinco anos de idade, e o processo evolutivo da composição vem ao longo do tempo, quando se somam a profundidade das suas experiências musicais tanto ao vivo, quanto em estúdio, com os novos caminhos descobertos no instrumento, interagindo com outros músicos, agregando a isso tudo suas vivências ao tocar e principalmente ouvir músicas que te acrescentem. Quanto à letras, sou um compositor bissexto. Às vezes vem uma letra completa da música e eu faço a música junto com a letra. São muito poucas que compús. Mas tive a imensa sorte e honra de estar ao lado de um grande parceiro letrista que me acompanha até hoje, o genial Kau Batalha, com quem produzi inúmeros jingles, trilhas e músicas em parceria ou de sua autoria, que são maravilhosas.

A produção musical está muito ligada a tecnologia. Eu sou de uma geração que vivenciou diversas mídias e processos de produção diferentes. Tinham gravadores com fita de rôlo, fita cassete, até que tudo finalmente se tornou digital. Os sintetizadores, sequêncers, gravadores digitais dos programas para produção, gravação e edição de áudio foram se aperfeiçoando muito ao longo do tempo. No início, pouco tempo atrás, eram bem diferentes. Hoje em dia essas máquinas trazem muitos loopings prontos, como sequencias de bateria, linhas de baixo e acordes de guitarra (entre outros ) em diversos estilos, que já vem pré programadas/gravadas, embutidas no pacote. Por um lado isso é legal pois existe muita gente talentosa, que produz muito bem, mas que não é músico, que não estudou música, mas nem por isso deixam de produzir trabalhos maravilhosos sabendo usar essas ferramentas sem tocar uma nota sequer. Por outro lado tem muitos músicos ¨raiz¨ que não fazem uso dessas tecnologias, e infelizmente acabam ficando fora desse mundo digital. Isso é uma pena, pois são músicos maravilhosos que mostram o que tem de melhor, seu talento, tocando somente ao vivo, tanto em gravações em estúdio como em apresentações. 06) Qual foi o momento mais marcante da sua carreira? MF- Tive a sorte de ter vários momentos muito marcantes. Acho que todos os músicos tem muitas histórias lindas pra contar. São sincronicidades, situações impossíveis que acabam acontecendo, você conhece pessoas improváveis e toca com músicos que você nunca imaginou. Isso é um grande mistério que a música traz, é uma conexão que acontece simultaneamente no planeta com os músicos de todas nações. Eu citaria 3 grandes momentos. Um deles quando, ao passar pelo vão livre do Masp quando tinha aproximadamente 22 anos, vi um cartaz sobre um concurso mundial de pianista de jazz que seria realizado em Paris. Naquela época, e na cara de pau, mandei uma fita cassete e fui admitido no concurso. Veio um telegrama confirmando a minha participação, que eu tinha sido pré-selecionado, e fui para Paris participar. Chegando lá fui vencendo várias etapas eliminatórias, que tinha um júri bastante conservador. Eu estava naquela fase de tocar com muita energia e virtuosismo, cheguei a final do concurso, e foi uma grande surpresa, pois estavam pianistas de vários países do mundo, um orgulho e uma experiência única essa passagem. Acreditei no impossível, isso é muito legal, a música nos ajuda a sonhar sempre. A propósito, como não venci o concurso, (fiquei entre os 5 finalistas), e como estava na França, compús a música ¨Je Suis Desolé¨. Outro grande momento foi quando, ao tocar num clube de jazz em São Paulo, um senhor holandês chegou ao piano e disse: eu produzo o maior festival de jazz do mundo, o ¨North Sea Jazz Festival¨, a agenda do festival está pronta, fechada, mas você vai participar de qualquer jeito. E foi assim que por duas vezes participei desse grande festival de Jazz, que tem participação de nomes históricos da música mundial, como Al Jarreau, George Benson, Stanley Clarke, entre muitos outros. Outro grande momento aconteceu quando eu tinha uns 13 anos, quando fui apresentado ao Teco Cardoso, grande saxofonista/flautista brasileiro com o qual viríamos a formar a banda Zona Azul, que marcou o cenário da música instrumental brasileira na década de 80, reconhecida nacional e internacionalmente, com participações em muitos shows e festivais de jazz. O que ocorreu é que ao chegar na casa do Teco, primeira vez que eu vi ele, sentei ao piano e ele pegou a flauta, e nós tocamos juntos sem ter combinado nada previamente, tocamos exatamente as mesmas notas juntos, uma sequência de notas idênticas ao mesmo tempo, foi uma coisa incrível, mágica. Depois de tocarmos bastante, a mãe dele colocou um LP do flautista do grupo de rock progressivo ¨Focus¨, da Holanda. Era o LP ¨Introspection¨ do Thijs Van Leer, flautista e cantor do ¨Focus¨. Ao ouvir essa música eu fiquei muito emocionado . Essa música, chamada ¨Focus V¨, com arranjo magistral de Rogier Van Otterloo, e que me acompanhou ao longo da vida em momentos de grande emoção, alegres ou tristes, realmente tocou meu coração. Não costumava tocar essa música em público, mas numa noite após um show realmente iluminado num clube de jazz em São Paulo, o Garôa, disse que iria tocar essa música para encerrar, como uma forma de agradecer, retribuir e desejar a todos presentes uma vida cheia de amor e alegrias, agradecendo pela noite musical maravilhosa que passamos juntos. Ocorre que assim que comecei a tocar a música, lá pelas 4h30 da manhã, eu vi entrando no bar um grupo de pessoas, entre elas uma com chapéu diferente. Essas pessoas entraram no bar e uma delas veio direto ao Piano, na minha direção. Não é que, pelos mistérios da vida, sincronicidade, força da música do amor, essa pessoa de chapéu era o compositor da música ¨Focus V¨, Thijs Van Leer em pessoa! Ele chegou acompanhado dos integrantes da banda Focus e de duas pessoas que os estavam acompanhando em São Paulo, as quais viriam a ser muito amigas, o Rodrigo Mantovani e Elias Frederico, ambos fãns e ¨especialistas¨ em ¨Focus¨. O próprio Thijs Van Leer veio e me abraçou muito emocionado. Ele também jamais imaginou que isso pudesse acontecer. Se fossem 5 minutos antes, ou depois, isso não teria acontecido. Em tournê pela américa do sul, a banda Focus estava em São Paulo, eles tinham acabado de fazer um show na antiga casa de espetáculos Palace, e após visitarem alguns jazz clubs, perguntaram ao motorista do taxi aonde ainda teria música ao vivo para finalizar a noite. Aí foi uma festa, ficamos amigos e nos encontramos praticamente todos os dias enquanto estavam em SP. Essa história inclusive está descrita no livro Hocus Pocus – The Life & Journey of Rock’s Dutch Masters¨, livro sobre a trajetória do grupo Focus, escrito pelo australiano Peet Johnson, biógrafo da banda.

Quando é que eu poderia imaginar que aos 13 anos de idade ouviria uma música que me tocaria tanto coração, e anos depois, ao tocar essa mesma música, que eu não costumava tocar em público, e justamente nesse momento o seu autor estaria lá, junto com a banda, vindo me abraçar? Como disse, nós ficamos muito amigos e tive o privilégio de, ao gravar a música ¨Focus V¨ no meu CD ¨Notas no ar¨, contei com a participação dos meus amigos do grupo Focus, Bobby Jacobs ( baixo ) e do próprio autor, o grande flautista e cantor Thijs Van Leer. Eles gravaram diretamente da Holanda e enviaram os áudios para mim. Foi um grande momento da minha história, e da deles também, rsrs. Para quem quiser ouvir a gravação da música ¨Focus V¨ do CD ¨Notas no Ar, ¨com fotos ilustrativas desse encontro tão precioso, segue abaixo.


07) Ao longo de sua carreira, você participou de gravações e apresentações com grandes nomes da música. Quais foram eles? MF- Eu acho que tive um grande privilégio, porque toquei e gravei com todos meus ídolos, com os quais ainda toco/gravo. Eu sonhava, e aconteceu realmente tocar/gravar com artistas como Leny Andrade, Ivan Lins, Jane Duboc, Djavan, Tim Maia, Hermeto Pascoal, Lô Borges, o inesquecível Marcio Montararroyos, Raul de Souza, Arismar do Espírito Santo, Filó Machado, Léa Freire, Edu Santhana, Fafá de Belém, Lula Barbosa, Ana Caram, Badi Assad, entre outros... isso sem falar de presenças constantes de queridos feras da música ao meu lado, como Teco Cardoso, Duda Neves, AC Dal Farra, Sylvio Mazzucca Júnior, Pichú Borrelli, Jarbas Barbosa, Lael Medina, Fares Junior, Renato Porchelli, Norival D´Angelo, Vitória Maldonado, entre muitos outros músicos sensacionais com quem ainda hoje tenho o privilégio de tocar e gravar.


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Michel e Tim Maia

08) Quem você reuniria em um palco para uma Jam? MF- Dos queridos amigos presentes nesse planeta, convidaria Hermeto Pascoal, Raul de Souza, Arismar do Espírito Santo, Kau Batalha, Duda Neves, Toninho Ferragutti, Teco Cardoso, Thijs Van Leer, Filó Machado, Paulinho Duro . Dos queridos amigos músicos ausentes mas presentes, convidaria Tom Jobim, Oscar Peterson, Ella Fitzgerald, Rafael Rabelo, Marcio Montarroyos, Jaco Pastorius, Tim Maia, entre outros gênios com quem tive a oportunidade de compartilhar música ou apreciar tanto ao longo do tempo. 09) Quão estritamente você separa compor e improvisar? MF- No meu modo de ver a composição é como uma fotografia da inspiração, ou seja, é uma inspiração inédita que veio, e vai ficar definida, que pode ser executada da mesma maneira em qualquer tempo. Já a improvisação, como o tempo, cada segundo é diferente um do outro, cada vez que você for improvisar, mesmo que seja repetidamente em cima de uma mesma música, será diferente uma da outra, é como se fosse uma sequência um filme dentro de um tempo ,no qual ao improvisar você estaria ¨surfando¨, com um colorido diferente em cada vez. Por isso nunca cansa,não enjoa, sempre é instigante, e sempre você pode descobrir alguma coisa nova a mais. Tudo isso é um grande prazer, poder se arriscar,se lançar de acordo com a sintonia que você está naquele momento. O segredo não é a quantidade de notas tocadas,e sim a sinceridade das notas que você toca que conta, isso é uma forma de chegar ao coração das outras pessoas, essa intensidade e carga de emoção é que faz a música acontecer em nossos corações. Você pode ter um improviso onde através de duas ou três notas, ou apenas uma somente colocada no lugar certo na hora certa, é que vai tocar a sua alma, então o virtuosismo não resolve tudo por si só. 10) Fale sobre os seus álbuns lançados, como foi o processo de criação de cada um deles? MF- Cada um tem uma história, os primeiros álbuns que realmente participei foram da nossa banda Zona Azul. Lançamos através do selo Som da Gente os LPs ¨ZonaAzul¨, e ¨Luzanoz¨, (que é ¨ZonaAzul¨ ao contrário). Nesses dois trabalhos tive uma participação intensa como compositor. Foi um processo colaborativo muito lindo, no qual cada um do grupo cuidava de algum detalhe da área de seu instrumento em cada música. Tive uma experiência maravilhosa também ao gravar o LP ¨Parque Cósmico¨. Foi uma gravação incrível porque foi gravado e mixado na hora, direto para o tape, tudo ao vivo sem overdubs nem edições. Esse LP traz muitos tesouros, porque nunca foi trabalhado. Fizemos um show só de lançamento, e ainda pretendo relançar esse LP em formato CD, que conta com a participação de músicos incríveis como Léa Freire ( flautas ), Duda Neves ( bateria), Sizão Machado ( baixo ), Sylvio Mazzucca Júnior ( baixo), Paulinho Duro ( percussão ) entre outros, e foi gravado e mixado ao vivo pelo incrível engenheiro de som Daniel Krotoszynski no estúdio RAC, do Constant Papineau, em SP. Como curiosidade, em 2018 recebi um e-mail do Japão, da distribuidora Disk Union querendo comprar o LP ¨Parque Cósmico¨. Por sorte ainda tinha ( tenho ) alguns exemplares, e acabei exportando um lote para eles. Nem imagino como souberam da existência do LP ¨Parque Cósmico¨, pois como disse, sequer chegou a ser lançado em lojas. Depois disso participei em mais de 250 CDs como arranjador, pianista, produtor. Também tive a honra e o privilégio de participar de projetos para a gravadora Azul Music, do grande amigo, o pianista, tecladista e compositor Corciolli, pela qual inúmeros projetos especiais ( como ¨Eletrobossa¨,Ëletrobossa Nights¨, ¨Jazzis¨, entre outros) foram gravados, lançados e licenciados mundo afora. Por conta das gravações intensas e viagens, somente em 2011 gravei meu primeiro CD ¨Notas no ar¨ com apresentações de lançamento no Auditório Ibirapuera, SP. Esse CD foi uma grande celebração, realizei vários sonhos. Cada faixa tem uma história diferente, convidados diferentes do Brasil e do exterior, onde eu pude me expressar como compositor e fazer releituras de músicas que eu gosto de outros compositores. Vários momentos lindos como a regravação daquela famosa música da história que eu contei ¨Focus V¨ com a participação dos meus amigos do grupo Focus, músicas como Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa Lobos com a participação de Toninho Ferragutti ( sanfona), releitura das minhas composições mais conhecidas como ¨Nasci para Você¨,¨Parque Cósmico¨, e aquela que compús no festival em Paris, ¨Je Suis Desolé¨. Para quem quiser conhecer melhor o CD, está nas plataformas Deezer, Spotify, Youtube e Music. 11) Há 37 anos, seu nome estava entre os 5 finalistas do prêmio “Martial Solal International Jazz Piano Competition”, um festival com músicos de todas as partes do mundo. O que esse feito significou para você e a sua carreira? MF- Sinceramente, na época eu não soube capitalizar esse feito. Fui professor de ¨Som de Cinema II¨ na faculdade de administração no curso de especialização em marketing da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado-SP), onde também me formei em administração de empresas. Após o meu retorno de Paris não divulguei o feito pois entrei na correria, e alguns meses depois soube através do diretor da FAAP, meu querido amigo Henrique Vailati, que não só a faculdade teria me dado todo suporte para participar do festival, como poderia ter divulgado muito melhor a minha participação, isso acabou ficando para os amigos mais próximos que souberam da história e a vida seguiu. Para mim, pessoalmente foi uma realização muito bacana, eu cheguei a conclusão que tinha um reconhecimento internacional que não havia aqui até por conta da falta de festivais desse tipo. Como músico, tinha reconhecimento apenas no meio artístico no Brasil. Depois de algum tempo, participei do festival de música popular chamado¨ Fampop¨, que acontecia na cidade de Avaré, organizado pelo querido compositor e cantor Juca Novaes (Trovadores Urbanos), com uma música instrumental no meio de várias músicas cantadas, e ganhamos o festival como melhor músico, melhor música do festival, e aclamação popular. Veja só, uma música instrumental vencer nessas categorias um festival de música cantada foi muito bonito. Teve ainda outra história, anos atrás quando estava no ensino médio, participei do festival de música da escola onde estudava, na escola Senai Suíço Brasileira de Mecânica de Precisão onde me formei em técnico em mecânica de precisão. Em uma das edições conquistei cinco das seis premiações, foi muito legal, mas era um festival para estudantes amadores como eu. Aliás nessa ocasião, minha mãe Marília Freidenson ligou para o querido e saudoso Zuza Homem de Melo (cíitico e historiador, baixista e apresentador de rádio e Tv ) sem o conhecer, o qual tinha um programa diário sobre música na rádio Jovem Pan que ouvíamos sempre, e o convidou para vir no dia do festival, sem a certeza de que ele toparia comparecer a um evento desses, e não é que ele foi ?!!! Isso foi um grande presente, conhecer o Zuza Homem de Melo pessoalmente. Além de ele generosamente ter ido ouvir e participar, se tornou um amigo da nossa família, dos meus pais e começou a frequentar as festas de música que fazíamos todo sábado na casa dos meus pais. 12)Conte-nos sobre seus estúdios Ritmo Produções. Quando foi criado e quais os tipos de trabalhos lá realizados? MF- Comecei a trabalhar profissionalmente com música aos 13, 14 anos de idade. Em uma noite, acho que todos pianistas São Paulo estavam ocupados, e bateu na porta de casa um baixista, se não me engano Pit Wooley, para convencer meus pais para que fosse tocar numa gig, pois não tinha pianista e era uma emergência. Foi meu primeiro cachê. Aos poucos comecei a participar de gravações como convidado em jingles, trilhas; era chamado pra criar, compôr, produzir, fazer arranjos e comecei a circular muito nos estudios em São Paulo, levando todo meu equipamento, teclados, etc. Chegou a um ponto que, junto com meu parceiro Kau Batalha, decidimos criar uma central de abastecimento de serviços de áudio, não para concorrer com as outras produtoras, mas para prestar os serviços diretamente do nossa instalação, para não ter o trabalho de ficar levando equipamento para todo lugar. A partir desse momento aconteceu o inverso, algumas agências começaram a nos procurar diretamente e seguindo a ordem natural das coisas, nós tivermos que assumir nossa identidade de produtora. Sempre foi uma pequena empresa mas muito viva. Ganhamos muitos prêmios como ¨Profissionais do ano¨ da Rede Globo, ¨Voto popular¨ nas premiações da propaganda, ¨Prêmio Colunistas¨, destacando-se um grande sucesso, o jingle ¨Suco de fruta no palito¨- Kibon , que ficou por seis anos consecutivos no ar. Para quem quiser ouvir, este jingle , segue abaixo:



Nós sempre produzimos mais para os outros do que para nós, que ironia, no sentido de que temos muitas músicas autorais que nunca conseguimos gravar até hoje. Vamos ver se agora isso vai ser possível. O mercado mudou muito de alguns anos pra cá. As pessoas nem se encontram mais para gravar juntos, nem discutir projetos de publicidade, tudo é virtual e temos trabalhado nessa área ainda. Quando era adolescente, lembro com muito carinho das gravações, eram todos instrumentos acústicos, tinhamos que esperar o baterista chegar, afinar a bateria, microfonar tudo peça por peça, passagem de som como se fosse uma gravação de um disco. Para fazer um jingle de 30 segundos era uma curtição, a gente tinha a oportunidade de encontrar com as pessoas no estúdio e passar um dia inteiro juntos para gravarmos as peças publicitárias. Esta é uma outra ¨tribo¨ de profissionais, diferentemente do showbiz. Músicos e cantores espetaculares que só se dedicam ao trabalho em estúdio, estão meio que ¨escondidos¨, não sobem ao palco regularmente, mas são artistas simplesmente espetaculares. Essa experiência foi muito rica, sempre recheada de inovações em termos de criações absurdas de ideias fantásticas e tínhamos uma liberdade criativa muito grande. Hoje em dia claro que isso tudo mudou, não quer dizer que seja pra pior, mas tive o privilégio de viver esses momentos de transições do modo de trabalho e tecnologia, cada qual com histórias maravilhosas pra contar. Na nossa produtora Ritmo Produções tivemos a oportunidade de atuar com as mais diferentes formas de aplicação de música, como a criação e produção de jingles, trilhas, spots, sonorização de máquinas com efeitos sonoros especiais, hinos motivacionais, eventos corporativos, criação e produção de premiações, vinhetas para TV, rádio, trilha sonora para teatro, documentários, novelas, filmes , campanhas políticas, e muitas ideias malucas. Uma delas foi a sonorização de uma linha de produtos onde um trenzinho circulava num circuito, e a cada momento que ele passava em frente algum produto da empresa tinha um ¨micro jingle¨ criado para aquele instante, numa época sem a tecnologia de hoje, era tudo mecanicamente ¨disparado¨. Enfim foram e ainda são muitos desafios, os quais muitas vezes parecem sem solução, mas sempre tivemos a sorte e competência de conseguir resolver todos. Tem duas passagens muito interessantes da Ritmo. Em uma campanha que produzimos para o restaurante Esplanada Grill ( hoje não existe mais ), vieram muitos artistas famosos gravar no nosso estúdio. Artistas como Hebe Camargo, Nair Bello, Jorge Benjor, Eri Johnson, Toquinho, Roberto Talma, entre muitos outros. Ficamos amigos de boa parte deles. Um dia Roberto Talma veio ao estúdio e me informou que iria dirigir uma nova novela para o SBT ( Colégio Brasil ), e me convidou para fazer a produção / direção musical da novela. Me deu a liberdade para escolher o tema de abertura e tudo mais. Que presente! Escolhi a música ¨Chovendo na Roseira¨, de Tom Jobim, e convidei a hoje famosa cantora Mônica Salmaso para cantar, ao lado dos amigos do Zona Azul que tocaram. Foi aí que ela conheceu o seu atual marido Teco Cardoso.

Abertura da novela Colégio Brasil- 1996:

13) Músico, compositor, produtor de trilhas, jingles e spots para publicidade, produções fonográficas, trilhas para séries de TV e novelas… Nessa atual fase de pandemia, como está sendo sua rotina? MF- Realmente é uma situação inédita e difícil. A parte mais difícil é ficar sem tocar ao vivo, coisa que fazíamos desde sempre, muitas apresentações com o nosso ¨Michel Freidenson Trio¨. Tinhamos uma rotina de tocar no ¨All Of Jazz¨, tradicional clube de jazz de São Paulo uma vez por mês, há 14 anos. O início da pandemia foi muito duro, a gente mudou a rotina de uma forma em que, através do confinamento também foram confinadas algumas ideias, projetos e impulsos. Tenho certeza que houve um grande desperdício de tempo, acompanhado de um quase desânimo, principalmente por parte dos músicos que adoram tocar ao vivo, e que nesse momento são os que mais sofrem quando não atuam em outros mercados. Procurei me reinventar, aprender outros programas de edição de música,e tive a sorte de ter contribuído em vários trabalhos virtuais em estúdio ao longo da pandemia, entre eles destaco um projeto muito interessante, que foi compôr, produzir, gravar músicas para um ¨game¨ que será lançado pela empresa Coffeenauts, que se chama Spaceline Crew, no qual, com muita honra, assino as trilhas, sob o comando de talentos geniais da nova geração, como os diretores Fabinho Freitas Rosa e Pedro Bechara. Outro grande momento até agora, dentro da pandemia, foi a produção do CD ¨Iapotikaba¨ (Jaboticaba) do ícone da bateria do Brasil Duda Neves. Gravamos com a participação de vários músicos dos Estados Unidos, Portugal e aqui do Brasil, onde centralizamos todos os áudios no estúdio para finalizar, mixar o CD inteiro, além das gravações das minhas participações no CD como pianista.


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CD ¨Iapotikaba¨

14) Há projetos em andamento? Poderia falar sobre eles? MF- Nesse momento estou me preparando para gravar um próximo CD, ainda sem título, praticamente 10 anos depois de lançar o CD ¨Notas no Ar¨. Pretendo fazer uma gravação Piano solo, e será um grande desafio para mim. A previsão de lançamento é setembro/outubro de 2021. Ao mesmo tempo estou fazendo os arranjos das composições do próximo CD do grande compositor Luiz Millan, com quem tenho gravado vários projetos, CDs, DVDs ao longo do tempo, como ¨Entre Nuvens¨, ¨Dois por dois¨, ¨Achados e Perdidos¨. Ele é um compositor simplesmente genial, e estamos trabalhando nisso também. Para quem não conhece o trabalho de Luiz Millan, recomendo uma pesquisa no Youtube ( digitar Luiz Millan ), é de uma sensibilidade, genialidade e bom gosto incríveis ! Ao mesmo tempo tenho preparado algumas lives com diferentes compositores, entre eles, Edu Santhana, integrante do maravilhoso grupo ¨Trovadores Urbanos¨, com as lives ¨Canções¨, ¨Voz e Piano¨, as quais serão exibidas brevemente nas mídias sociais. 15) Como você avalia o futuro da música com todas as novas ferramentas de internet? MF- Estou vendo de uma forma ambígua. Realmente há uma democratização e inclusão de músicos e leigos na produção de música através de ferramentas digitais. Muitas dessas ferramentas permitem com que pessoas, mesmo não sendo músico de formação, mas tendo talento, consigam produzir músicas muito legais. Por outro lado o excesso de música pré-programada, o excesso do uso exclusivo de loopings, acaba por despersonalizar a força que a música tem. Acho que até já está acontecendo uma revisitação ao passado, na busca da forma de fazer música que emociona e mexe com o coração. Nada como utilizar um instrumento musical para ser um prolongamento do seu corpo, para externar seus sentimentos de maneira orgânica, e essa despersonalização pode ser uma consequência de alguma saturação de produção que ocorre nesses tempos de música tão digitais. Por outro lado, o futuro da música, da sobrevivência através da música, está mais controlado no sentido de se saber exatamente o grau de exposição e execução das músicas para fins de recolhimento de direitos de autores, intérpretes e músicos conexos. O atual sistema não é muito justo com os músicos e espero que o processo digital traga melhorias nesse sentido, para que tenhamos mais controle e seja feita uma distribuição da arrecadação de forma mais justa. Na verdade a melhoria das plataformas digitais ajudam a impulsionar talentos que estão escondidos, e que não seriam conhecidos através da grande mídia. Também por outro lado, é necessário agora que músicos tenham de se aprimorar mais, estarem sempre atualizados e conhecerem e se familiarizarem melhor quanto ao funcionamento desse novo jeito de produzir, executar e comercializar música. A única coisa que eu realmente espero, é que as músicas tenham um sabor que venha da alma e não das máquinas. Muita coisa nova ainda está por vir, e assim como em qualquer senóide, vivemos altos e baixos no processo criativo e de avanços, mas prevejo que a linguagem do quanto menos é mais, vai voltar, e depois quem sabe iremos para um outro novo ciclo que combine melhor as duas coisas. 16) E para terminar, qual a mensagem que fica para quem quer seguir na música? MF- A mensagem que deixo para quem quer seguir na música, é em primeiro lugar, tentar entender o que é a música, de onde ela vem, qual a responsabilidade que temos para com ela, pois nossas ações irão impactar outras pessoas. Quando criança cheguei a pensar que não seria músico, pois quando crescesse todas as músicas do mundo já teriam sido feitas. Até aprender que é uma fonte inesgotável. Para quem toca um instrumento é necessário ter consciência da responsabilidade e comprometimento de sua atuação, pois a música tem podêr. Tem podêr de fazer uma pessoa chorar, se alinhar, ficar bem, se curar ou até mesmo se desestabilizar. Música é como se fosse uma oração, uma mensagem, inclusive de fé, pois está muito próxima de uma fonte de muita luz e muito amor. O nome da banda Zona Azul que tínhamos, sempre representou para mim uma ZonaAzul no multiverso, aonde todas as músicas possíveis estão lá contidas. Através do nosso alinhamento vibratório temos maior ou menor sintonia com essa região, e quanto mais afinados, alinhados estivermos, mais profundamente iremos interagir com essa fonte, então a mensagem que fica é para que sempre façamos música com sinceridade e coração limpo. A música é de todos, e essa é a maior lição de humildade que recebemos ao lidar com algo infinito. Ninguem é dono da música, a música fazemos todos nós, quem toca e quem ouve; quem reverbera junto. Tanto é que se tocarmos exatamente a mesma música para plateias diferentes a cada dia, cada dia teremos uma versão diferente da mesma música por causa da reverberação de públicos diferentes. Ser músico é um privilégio para pouquíssimas pessoas nesse planeta que tocam um instrumento, independente do estilo que seja a música, mas que impacta milhões de pessoas. É realmente uma profissão de fé, e através dela com certeza podemos contribuir para fazer um mundo melhor, levando para as pessoas uma poderosa energia que pode despertar algo muito precioso em todos. Abraços a Todos, obrigado pela oportunidade. Michel Freidenson


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